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Desenvolver a Consciência fonológica no Pré-escolar? Porquê e para quê?

A fase pré-escolar é um período crucial para o desenvolvimento das competências de linguagem e de literacia das crianças. Na literatura podemos encontrar informação diversa que consubstancia este facto, sendo considerado que “as crianças em idade pré-escolar conhecem e utilizam um vocabulário relativamente extenso de palavras. Compreendem facilmente os significados de questões, ordens e histórias. Processam igualmente de forma automática os segmentos da fala, o que, por exemplo, lhes permite distinguir e articular palavras que se distinguem entre si apenas por um som (por exemplo, pato e gato). No entanto, em situações de comunicação natural, as crianças centram-se, sobretudo, no significado dos enunciados, ativando processos de análise automáticos e inconscientes necessários à perceção e compreensão do discurso, não tendo, no decorrer dos mesmos, que atender, nem manipular dimensões estruturais da língua (segmentos fonológicos, estruturas sintáticas, etc.)”. Por outro lado, “as capacidades das crianças para pensar sobre as propriedades formais da língua (consciência linguística) começam a desenvolver-se no final dos anos pré-escolares. Para o desenvolvimento dessas capacidades é necessário que as crianças apresentem já um razoável domínio das estruturas da sua língua materna em situações de comunicação (vocabulário, sintaxe, articulação das palavras). Assim, à medida que progridem os conhecimentos infantis sobre a língua materna, as crianças começam também a tomar a língua como objeto de reflexão. Por exemplo são capazes de considerar incorreta a afirmação de um menino que diz “Eu fazi um desenho” ou começar a inventar outras formas de completar lengalengas tradicionais, recorrendo a palavras que apresentam a mesma terminação sonora (Dão badalão, cabeça de cão… cabeça de melão, cabeça de feijão). Estes comportamentos indiciam processos primitivos de distanciação em relação à língua enquanto instrumento comunicativo, começando as crianças a pensar sobre dimensões fonológicas ou sintáticas da língua. Esses processos de reflexão, ainda que intuitivos, podem incidir sobre os segmentos sonoros das palavras (consciência fonológica), sobre a identificação de palavras nas frases (consciência da palavra) ou sobre a adequação gramatical das frases (consciência sintática)”.

Alguns autores referem que “embora algumas competências fonológicas se vão desenvolvendo à medida que se aprende a ler e escrever, outras precedem a aquisição da leitura convencional. Muitas crianças desenvolvem alguns aspetos da consciência fonológica através das atividades e brincadeiras em casa e no jardim-de-infância. Estas aquisições fazem-se a partir da leitura de livros, jogos de rimas, lengalengas, poemas, canções, brincadeiras com palavras, etc.

Porém, outras crianças necessitam de uma abordagem mais sistematizada e intencional, devido, muitas vezes, ao facto de não terem tido a oportunidade de passar por experiências e atividades do tipo das acima enunciadas. Contudo, existem alguns aspetos da consciência fonológica em que é necessária uma sistematização bastante intencional e a escolha e condução de atividades que os promovam”.

Sendo hoje consensual que “a aprendizagem da leitura e da escrita e a competência fonológica, nomeadamente a consciência fonémica, se influenciam mutuamente” e que a consciência fonológica (que envolve a capacidade de perceber, identificar e manipular os sons da fala) é um dos principais preditores do sucesso na aquisição de futuras competências de leitura e escrita, considerou-se que seria uma mais valia implementar, de forma sistematizada e intencional, com as  crianças do grupo A do Pré-escolar da Escola Básica do Pragal, um programa de consciência fonológica. Para tal são dinamizadas, diariamente, atividades diversificadas e diferenciadas, de caráter lúdico que privilegiam a aprendizagem através da ação/experimentação. Assim, tem vindo a ser proposta a realização de atividades que podem incluir o reconhecimento de semelhanças e diferenças nas unidades sonoras, a segmentação e reconstrução das sílabas da palavra, a subtração e adição de sílabas, a segmentação e reconstrução silábica, a identificação da sílaba tónica, a aliteração (repetição do som inicial), manipulação de fonemas, a associação som-grafema e a consciência de palavra e de frase (entre outras), como por exemplo “Jogos de rimas”, “Descoberta do som inicial”, “Palmas silábicas”, “Caça ao som final”, “Troca de sons”, “O som da minha letra”, “Saltos das sílabas”, “Substituição dos sons”, “Batata quente dos sons”, “Dança das rimas”, “O eco das sílabas”, “Detetive dos sons”, “Telefone estragado silábico”, “Roda das palavras”, “Dominó silábico”, “Estátua dos sons”, etc.

Desta forma, ao promover o desenvolvimento da consciência fonológica na educação pré-escolar, promovemos a diminuição de barreiras na aprendizagem da leitura e da escrita, assegurando que todas as crianças independentemente do seu percurso ou contexto familiar, tenham acesso equitativo às ferramentas fundamentais da literacia e a construção das bases de um percurso escolar mais inclusivo e bem-sucedido.

Ana Patrícia Ferro

Educadora de infância

Professora de Educação Especial 

Bibliografia

Freitas, M.J. et al; (2007); O Conhecimento da Língua: Desenvolver a consciência fonológica, Ministério da Educação

Mata, L.; (2008); A Descoberta da Escrita: Textos de Apoio para Educadores de Infância; Ministério da Educação 

Ribeiro, A. et al; (2016); Ainda estou a aprender: As tecnologias no apoio à avaliação e à intervenção nas dificuldades na aprendizagem da leitura; Fundação Calouste Gulbenkian/ Edições Almedina 

Sim-Sim, I. et al; (2008); Linguagem e comunicação no jardim-de-infância: Textos de apoio para educadores de infância; Ministério da Educação

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